Depois de passados dias sol e de chuva, Cora imaginava que a qualquer momento o vovô iria trabalhar na terra. E foi assim mesmo. Logo cedo ele chamou: - Meninas, o vô vai começar a preparar tudo para trabalhar nos canteiros. Calcem suas galochas, prendam os cabelos e vamos à enxada. - Oba! – exclamou Cora animada! Ela amava plantar e cuidar da terra. Trabalhar com a enxada era sua parte preferida. Sabia levantar canteiros como ninguém e vovô já havia lhe mostrado como a terra fica macia e própria para trabalhar depois de um dia de chuva. Flora chegou curiosa em saber o que iriam plantar e também se haveria algum momento para colheita. “Tomara que hoje o trabalho seja no pomar. Assim podemos preparar geleia com a vovó depois!” – ela pensava consigo.
A pequena Celeste tinha as mãos ágeis e olhos de águia que sobrevoavam tudo rapidamente. Chegou lá fora já olhando para todos os lados e verificando o que precisava ser feito: - Olha só quanta vagem de feijão! Será que já está na hora de colher? O canteiro está com bastante matinho, né vovô... - Eu quero ajudar na limpeza do canteiro! Eu posso vô? – foi se oferecendo interessada Cristal. Ela gostava de ver tudo muito bem organizado e com olhar atento, não restaria nenhum matinho que não fosse convidado. - Muito bem, meninas. Hoje nosso trabalho será com os feijões. Celeste reparou muito bem. Está na hora da colheita. Vejam quantas vagens marrons, este é o sinal. Flora e Celeste, esta será a tarefa de vocês. Retirem as vagens e coloquem na cesta. Depois, vamos dividir a colheita em três partes. Com as vagens verdes que encontrarmos a vovó vai preparar uma salada bem fresquinha. Das vagens marrons vamos retirar os feijões para cozinhar para o almoço. A terceira parte da colheita nós iremos usar para um novo plantio. Cristal, riqueza, os feijões guandu lhe agradecerão pela limpeza que fará na casa deles.
- Mas e eu, vô? – perguntou Cora emburrada por estar pronta para o trabalho e ainda não ter tarefa. - Calma, filha. Você vai ajudar o vô a levantar o canteiro onde iremos plantar os feijões. Vamos preparar a terra para receber as sementes. Pois então, chega de prosa e simbora! Começam o trabalho. O “tum, tum, tum” da enxada a fincar a terra, o assovio dos pássaros e o cantarolar do vovô enquanto trabalhava... Os três juntos formavam uma linda música. Enquanto retirava os matinhos da terra, Cristal reparava que eles eram diferentes. Alguns lhe chamavam a atenção pelas raízes profundas e difíceis de arrancar. Outros porque cresciam alto com seus caules bem compridos. Foi então que encontrou uma parte do canteiro repleta de trevos! Ficou encantada com suas lindas folhas em formato de coração. - Vovô, vovô! Olha só quantos trevos eu encontrei!
Vô Nê enxugou a gota de suor que escorria do canto direito de sua testa e foi em direção ao local que Cristal lhe apontava. Agachou-se e retirou um deles. Fechou os olhos por um instante e depois colocou o pequeno trevo na boca, saboreando vagarosamente.
- Dizem que o trevo de quatro folhas dá sorte, pois é muito raro de se encontrar. Mas o que o pessoal não sabe é que o trevo de três folhas guarda um grande segredo dos céus.
Todas pararam suas tarefas e foram se aproximando em volta do avô.
- E qual é, vovô? – perguntou Cora de olhos arregalados.
- Elas alimentam os homens de esperança. Quando encontramos um trevo e vemos suas três folhas nos lembramos de que não estamos sozinhos no mundo e podemos seguir em frente.
- Mmmm... Lembramos do papai e da mamãe?
- Sim, Celeste. Veja só – e foi então mostrando como havia uma folha para cada um: uma para mamãe, uma para o papai e outra para ela.
Flora foi chamando todos para bem pertinho e disse em voz bem baixinha, quase sussurrando, como se fosse contar algo muito importante:
- Que tal levarmos os trevos para completar a salada de vagens? Além de serem deliciosos, ainda vamos ficar cheios de coragem e esperança!
Todos caíram na risada e voltaram então a suas tarefas cantarolando juntos. Terra bem macia, fortes raios de sol. Faltava apenas a água para que as sementes de feijão crescessem bem fortes. Enquanto trabalhavam, parece que os seres da floresta ouviram a conversa. O trabalho teve seu início, meio e chegava ao fim. Estavam pegando os instrumentos de trabalho e a cesta da colheita para voltar pra casa, quando começaram a sentir os pingos chegando e junto deles um belo
presente: o sol, a chuva e um grande arco-íris seguiriam cuidando juntos das sementes plantadas na terra por cada um deles.
O SEMEADOR ENTRE O CÉU E A TERRA
O trabalho aqui na terra
tem início, meio e fim.
Cresce raiz, caule e folha.
Tem pra você, pra ela e pra mim.
Juntos nós semeamos
Vamos regar e depois colher
Como as três folhas do trevo
Três corações a agradecer
História e Verso pela Professora Catarina Menezes (1º ano)
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